segunda-feira, 6 de julho de 2009

O que não era, agora é - parte seis

Qual roupa eu vou agora? Eu não tenho roupa. Mas por que tanta preocupação, é só um passeio de amigos, ou não? Ah, eu não sei. E nem quero saber, eu acho. Só preciso de uma roupa descente. Eu acho que se ele gostar mesmo de mim, ele vai querer que eu vá como eu gotaria de ir. Não tentando er algo que eu não sô. Então, eu vou com a minha blusa azul listrada favorita, minha calça jeans, minha bolsa do Hello Kitty e meu All star. Pronto. Acho que fico bom. Pelo menos me sinto confortavél e é isso que importa. Nossa! Já são 5:40 e nem arrumei meu cabelo. Chapinha básica, concerteza. Buzina? Pra minha surpresa quando eu olhei pra janela era o carro do Fernando. Será que eu tô atrasada? Porque eu tinha ficado de passar lá. Pra que ele veio? Peguei meu celular, carteira e passei meu gloss rápido. E desci as escadas correndo. Meus cabelos deveriam ter dessarumado.
Eu tô atrasada?― Eu falei ofegante.
― De jeito nenhum. Ainda faltam uns 10 minutos pra 6 horas.― Ele me respondeu. Com o meu sorriso preferido no seu rosto. Era um sorriso malicioso, que ficava muito lindo no rosto dele.
― Então por que veio essa hora?
― Queria ver se não ia se atrasar.
― Eu nunca me atraso. Tu sabe.
― Mas se esquece das coisas né?
― Como assim?
― Violão Isabela.
― Ah é mesmo! Viu tu e essa sua pressa. Acabei me esquecendo dele. Vou lá pegar.
― Posso ir junto?
― Vêm.
Entramos os dois e subimos pro meu quarto. Eu fui até o armário onde guardava o violão e peguei. Quando virei para olhar pro Fernando, ele estava olhando minhas fotos no computador. Ele não podia fazer isso.
― Não! Não olha isso aí não.― Eu saí correndo e gritando.
― Então quer dizer... Tu gosta do Giovanni?― Ele me perguntou confuso e um pouco decepicionado, aparentemente.
― Bom... Por que falar sobre isso? É algo muito chato.
― Eu quero saber. Por favor Bella, me conta.
― Ok, ok. Quando eu entrei naquela escola a primeira pessoa que eu falei foi com o Giovanni. Ele ficou umas semanas sentado comigo. E a gente se dava muito bem. Isso a gente tava na sexta série. E bem, me apaixonei por ele. Então, um pouco antes de acabar o ano ele se mudou de lugar. E depois disso nunca mais falou comigo. Ele tipo sei lá. Eu acho que nem se lembra da epóca que nós erámos amigos. Mas isso não importa. Não sei porque eu te contei isso.
― E tu ainda gosta dele?
― Ah Fernando...
― Por favor, eu preciso mesmo saber.
― Eu... Gosto... Um pouco... Ainda.― As palavras saíram todas separadas. Eu não queria admitir aquilo. Era muito vergonhoso e muito secreto. Nunca contei isso pra ninguém.
― E foi por isso que tu se afastou de todos na escola?
― Em certa parte sim. Pelo menos eu não ia mais sofrer.
― Eu te faço sofrer?
― Não entendo porque isso tem haver contigo.
― Pode ter certeza. Desde de o começo tem haver comigo, mais do que possa imaginar.
― Não. Tu nunca me fez sofrer. Aliás, eu me sinto muito bem do teu lado. Tu me faz querer ser eu mesma. Tipo, não bancar a nerd e anti-social. Querer somente ser a Isabela. Alguém que ninguém realmente conhece. E eu me divirto muito contigo. Apesar de só termos menos de um mês de amizade.
― E mesmo assim eu não consigo.
― Não consegue o que?
― Acho que não é a hora de falarmos nisso. Vamos logo. Se não vamos perde a sessão.
― Tudo bem, eu já peguei o violão.
Descemos em silêncio e assim foi o caminho todo até o shopping. Fernando ficou o tempo todo com uma cara fechada. Parecia preocupado, um pouco triste e confuso. Não sei por quê. Mas assim que estavamos na fila pra comprar os ingressos. Eu quebrei o silêncio. Não aguentava mais aquilo.
― Ok. Fala logo. Tu não consegue esconder nada de mim. O que tu tem?― Eu falei brincando. Mas num tom severo.
― Eu não sei Isabela.― Tremi quando ele não me chamou pelo meu apelido. E ele sabe que eu prefiro muito mais ele.― Tu me deixa muito confuso. Não sei muito bem o que pensar. Muito menos o que sentir.
― Boa noite. Que filme desejam ver?― A atendente da bilheteria interrompeu nossa conversa. Eu odiei isso. Eu não tinha entendido nada do que ele disse. Isso me deixou muito furiosa.
― A possuída.― Fernando falou enquanto sorria. Mas não com meu sorriso favorito.
― 24 reais. Já é próxima sessão. Sala 9.
Fernando alcançou o dinheiro. Enquanto eu ficava surtando porque veriámos um filme de terror. Eu morria de medo. Não importa o quanto terror fosse. Eu tenho certeza que daria muitos gritos, seria constrangedor de mais.
― Obrigada, tenha uma boa noite.― Atendente falou.
― Filme de terror?― Eu falei com uma cara de confusa. Tentando aparentar o máximo que não gostei da idéia.
― Ora, qual é problema? Tem medo Bela?― Agora sim, meu apelido. Fica bem melhor. Mas eu não sabia como explicar isso a ele. Eu ia parecer uma fraca.
― Bem,― eu falei tentando achar as palavras certas― não são os meus favoritos.
― Qualquer coisa você pode se esconder no saco de pipoca.― Ele disse rindo aos berros. Eu não achei a menor graça.
Preferi não responder a esse comentário. Comecei a caminhar mais rápido e passei na frente dela. E ele notou que eu não tinha gostado. Então ele andou um pouco mais rápido e fico do meu lado. De vez em quando ele me olhava com o canto do olho, enquanto caminhavamos até a sala. Ele abriu a porta pra mim e me mandou entrar primeiro.
― Primeiro as damas.― ele disse, com meu sorriso favorito estampado no rosto.
Entrei sem dizer nenhuma palavra. Eu ainda estava chateada por ele ter escolhido um filme de terror. Eu sabia que essa parte da noite não seria nada legal. E ainda estava pensando em como não ver as horríveis cenas sem ele não perceber que eu estava com medo. Eu teria que arrumar um jeito.
― Fico muda?― Ele disse tentando fazer eu falar.
― Ainda não, mas era um bom momento.― Respondi sarcasticamente.
― Por que?
― Nada não. Esquece.
― Ah me fala.
― Já te falei muitas coisas hoje. Já tu me encheu de dúvidas e me deixou mais confusa.
― Sabe que os homens não expressam bem o que sentem.
― Poderia ser o primeiro a mudar essa idéia.
― Tudo bem, o que você quer saber?
― Por que era importante tu saber se eu gostava do Giovanni?
― Próxima pergunta.
― Mas... Tá. Por que me disse aquilo na fila?
― Por que é o que eu sinto. Como eu disse tu consegue me confundir muito. E mesmo assim...― Parecia que ele não queria terminar essa frase. Mas eu não falei nada fiquei esperando. Ele teria que me dar explicações de alguma coisa.― Tu me faz querer ficar perto de ti.
― Sim. Eu sei como é. É muito legal te ter como amigo.
― Realmente. Deixa pra lá. O filme vai começar. Quer pipoca?
― Agora ainda não. Quando o saco tiver vazio tu pode me dar.
― Tudo bem.
O filme era horrível. Eu me segurava na cadeira com toda força. Tinha cenas que era muito aterrorizantes. Eu queria sair correndo dalí, mas não faria isso. Minhas pernas não iam deixar. Tentei me concentrar em um ponto fixo na sala onde eu não veria as cenas. Mas não deu muito certo, eu ainda podia ouvir. Então uma hora que não pode mais aguentar coloquei as mãos no rosto e me encolhi toda. Pra minha surpresa Fernando passou um braço atrás da minha cintura e me puxou pra perto dele. Com o outro braço ele me ajudou a esconder o rosto. E pra maior surpresa ainda eu gostei daquilo. Eu senti aquele famoso frio na barriga. Borboletas no estômago. Agora eu entendia do que as meninas tanto falam quando gostam de um menino. Um tempo depois que já estava mais calma com aquela situação, deitei minha cabeça no peito dele. E escondi mais ainda o rosto. O que me fez ficar mais próxima dele. Em um momento do filme no qual se escutava uma mulher dando um grito muito agudo de pavor, eu dei um pulo e me encolhi mais. Eu não queria imaginar por que ela tinha gritado. Então Ferando me abraçou e disse: " Não precisar ficar com medo. Eu vô ficar o tempo todo do seu lado. Não quer o saco de pipoca?" Só acenei com a cabeça que não. Prefiria ficar da maneira que eu estava. Eu me sentia muito melhor. E não queria sair dali, por um momento eu comecei a gostar de filmes de terror. Será que eu estava gostando do Fernando? Decidi não pensar naquilo no momento. O filme estava no fim. E eu percebi que o meu tempo tinha acabado. Acho que não teria outro momento desses, ou teria? Enfim, o filme acabou e eu pude relaxar. Me mexi um pouco pra ver se Fernando tirava o braço de cima de mim. E ele realmente tirou e ficou de pé. Me levantei logo em seguida e saímos da sala em silêncio. Eu ainda estava um pouco tensa pra falar alguma coisa. Mas estava muito feliz.
― Então, foi um bom filme né?― Eu falei meio timída.
― Claro, pra ti que acompanhou tudo.― Fernando respondeu rindo.
― Eu tentei avisar que não era uma boa idéia.
― Tudo bem, vemos outro que você quiser na próxima vez.
― Mas mesmo assim o filme foi bom.
― Foi? Por que?
― Hãã... Então a gente vai pra casa?― Mudei de assunto rápido, não quero e nem ia admitir que o filme foi bom porque fiquei abraçada nele.
― Não sei. São 8 horas agora. Podemos comer alguma e depois ir, ou , você prefere já ir?
― Admito. Estou morrendo de fome!
― Então vamos comer.― Ele riu.― O que a gente vai comer?
― Eu quero um hamburguer.
― Eu também.
Nós dois rimos juntos e fomos em direção a praça de alimentação.

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