segunda-feira, 20 de julho de 2009

O que não era, agora é - parte sete


Enquanto eu procurava uma mesa, Fernando foi fazer os pedidos da comida. Quando eu achei a mesa, me sentei e fiquei esperando. Minha cabeça estava a mil, cheias de perguntas. A pergunta que mais me incomodava, na qual eu não queria pensar agora era: será que eu gosto do Fernando? Eu não sabia a resposta, mas eu também não sabia se queria saber a resposta. Eu não queria sofrer. Minha paixão pelo Giovanni já tinha roubado muito da minha força. Não sei se aguentaria tudo de novo. Então até ter certeza máxima, não tocaria no assunto. Tentei me acalmar e deixar minhas perguntas de lado. Eu pode ver na hora em que o Fernando estava vindo com as bandejas. Uma menina parou ele no corredor e entregou um papel. Depois ela foi embora, ele ficou olhando um tempo pra ele enquanto me procurava no meio do mar de gente. Eu me levantei e acenei discretamente pra ele me ver. Quando ele viu, abriu um sorriso e veio para onde eu estava.
- Gente loca.- Ele disse enquanto sentava.
- Não entendo.- respondi confusa.
- Aquela menina me deu o número dela nesse papel e mandou eu ligar.
- E tu vai ligar?
- Não sei. Quem sabe.
- Uau, vai ser um grande relacionamento daí.- Cala boca, isso foi coisa de ciumenta. Tomara que ele não tenha percebido. Tomara!
- Por que diz isso? Tem algum problema?
- Não, a vida é sua Fernando. Faça o que quiser.
- Já te disse que fica muito linda quando tá com ciúmes.
- Eu não tôcom ciúmes!- Droga, ele percebeu.
-Ok, então me diz. Por que não simplesmente diz que é ciúmes? E resolvemos essa situação.
- Porque não é ciúmes. Eu não teria ciúmes de ti.
- Teria só ciúmes do Giovanni né?
- Não quero falar nisso.
- Eu não entendo por que tu gosta de um menino tão estúpido, arrogante e nojento que nem ele. Sabe. Tu é muito bonita. Se falasse mais com os meninos da sala, eu sei que eles veriam o quanto tu é especial. Tu é uma das poucas meninas que se pode manter uma conversa inteligente daquela escola. As outras meninas estão tão preocupadas com o umbigo delas que nem olham pra cara. Eu acho que tu não querem se envolver com outras pessoas é um erro. Tu tem que ser quem tu é. Tu tem que ser aquela menina que me conquistou no primeiro dia que a gente conheceu. Nem me conhecia direito e me tratou super bem. E ainda aceitou dar aulas pra mim. Eu acho que realmente tu não enxerga bem como tu é. Eu tenho certeza que não enxerga.
Eu não conheci responder nada. O que pode fazer foi morder o hamburguer, daí eu não precisaria responder de boca cheia. Mas eu sei que depois ele ia querer respostas. E isso não me animou.
- Desculpa Bela. Eu não deveria falar assim contigo. É que... É que eu não consigo deixar de dizer algumas coisas que estão na cara. Mas depois que a gente sair daqui vamos pra minha casa tocar?- Ele mudou de assunto, concerteza queria esconder alguma coisa de mim.
- Não sei. Se for muito tarde...
- Tu pode posar lá em casa.
- Hã? Tu acha que meu pai vai deixar eu posar na casa de um menino? Só nos teu sonhos.- Eu ri muito com a idéia dele.
- Bom, valeu pelo corte. Mas eu tenho uma irmã, tu pode durmir no quarto dela. Só que hoje lá tá em casa. Mas diz pro teu pai que tu vai pra casa de uma amiga. Eu queria muito que a gente tocasse hoje.- Ele friziu muito bem que queria hoje. Outro dia não serveria.
- Eu não sei, não Fernando. Eu não gosto de mentir.
- Ou apenas não gosta de ficar comigo um tempo.
- Não! Eu gosto, gosto muito de ti.- Palavras erradas. Droga. Eu vi um sorriso no rosto dele.- Mas eu não sei se...
- Calma, mamãe e papai vão estar em casa eu não vou te assediar.
- Eu não pensei nisso, mas agora é mais uma preocupação.
- Tu tá brincando né?
- Lógico, mas mesmo assim. Eu ainda não sei.
- Tu não me deixa escolha.- Ele parou. E depois olhou bem no meu olho.- Eu terei que te sequestrar então.
- Nem pensar, tá louco?
- Eu tava apenas brincando. Mas se tu não concordar comigo. Te sequestro por tempo indeterminado.
- Mas o que te faz pensar que eu tenho que concordar contigo?
- Porque eu quero ficar um tempo contigo. Fazendo algo que eu gosto e queria dividir esse momento contigo. Serve?
- Em tese.
- Vai vir ou não?
- Tá bom. Eu vou, mas eu tenho que passar em casa antes.
- Ok, ok. Termino de comer?
- Sim.
- Então vamos. Temos que ir na tua casa ainda.
- Tá bom.- Como sempre eu estapanada foi me levantar da mesa e quase caí. Se não fosse o Fernando me segurar pela cintura, eu estaria no chão morrendo de vergonha. Mais uma vez borboletas no estomâgo.
- Tudo bem?- Ele me perguntou preocupado.
- Si-sim.- Eu gaguejei. E depois me soltei do braço dele.
Então caminhamos mais uma vez em silêncio. Ele até comentava algumas coisas comigo, mas eu não estava com a cabeça aqui. Ela tinha partido pra outra parte desse mundo. Alguma parte que eu ainda desconhecia. Mas que era muito boa. Ele me chamou umas três vezes, mas como eu disse eu estava em outro mundo. E não queria voltar tão cedo. E sabe que eu descobri nesse mundo? Eu amava o Fernando desde o começo e não me toquei. Por isso que eu gosto tanto de dar aulas pra ele, gosto de ficar conversando com ele, quero que ele veja como eu sou pra ver se ele gosta de mim. E assim que vai ser. Daqui pra frente eu vou ser eu mesma. Não importa o que digam.
- Isabela, cuidado!- Eu dei de cara no poste, no estacionamento. Que mico.- Em que mundo tu tá?- Fernando falou enquanto me ajudava a levantar.
- Nesse que não era.- Respondi enquanto esfregava a testa.- Tá doendo muito.
- Calma, vamos pra casa e tu coloca um gelo.
- Tu acha que minha mãe vai deixar eu sair nessa situação?
- Então liga pra ela. Minha irmã te empresta uma roupa.
- Tá bom.- Disquei o número da minha mãe e depois de 4 toques ela atendeu.- Alô, mãe?
- Oi filha.- Minha respondeu.- Onde tu tá?
- Tô no shopping. Mãe posso posa na Tassi?
- Claro amor, mas amanhã tu tem aula.
- Eu vô passar em casa e pegar as meus materias então.
- Tá bom. Eu e se pai vamos durmir. Então pega a chave no vaso de flor pra poder entrar, tá?
- Tudo bem mãe.
- Beijos e boa noite.
- Boa noite mãe. Manda um beijo pro pai.
- Tá bom. Olha os modos.
- Eu não tenho mais 5 anos mãe.
- Tá, me desculpa. Beijos.
- Beijos.- Desliguei e me virei pro Fernando.- Tenho que passar em casa. Amanhã tem aula.
- Tá bom, eu passo contigo lá.- Ele respondeu inocentemente.
- Er, vai ser mais complicado. Meus pais acham que eu vô posa na Tassi.
- Tá. Então como vamos fazer?
- Me deixa uma quadra antes de casa. E daí tu passa por mim de carro e para na outra esquina depois da minha casa. Depois que eu pegar minhas coisas. Eu vou até o teu carro e pronto.
- E seus pais vão ver esse teu roxo?
- Tá roxo? Ah não que droga!
- Um pouquinho.
- Não importa. Vamos logo.

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