segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O que não era, agora é - parte nove


Então nós dois fomos para o estúdio. Mas para isso tinha que passar pela cozinha. O que me pareceu uma boa ideia, eu estava louca de sede. Não só louca pela agua, mas também louca pelo Fernando. Mas isso fica entre a gente.
- Fernando, será que tu podia me dá um pouco de agua?- eu pensei: ou quem sabe você que se doar pra mim, eu aceito essa caridade. eu ri no meu pensamento.
- Claro, pode pega na geladeira. Sinta-se em casa.
- Ah não tenho vergonha.
- Pega logo boba, te considero como uma irmã já. Pô.- irmã ? pô, devo té feito uma cara de nojo. Mas me contive e peguei a agua.
- Aah...- Não sabia como expressar tamanha alegria por ser considerada irmã dele. Eu não mereço isso.
- Mas enfim. Podemos começar a tocar?
- Sim.
Cara, eu não sei nem o que tava tocando. Minha cabeça tava explodindo. O Fernando chamou minha atenção umas 5 vezes porque eu parava de toca. E o pior é que eu parava de toca e ficava encarando ele, mas só depois que eu percebia. Eu tava com tanta raiva por ser considerada uma irmã. Mas... Mas vô esquece isso.
- Poxa Bella!- Gritou o Fernando irritado.
- Desculpa.- Eu me desculpei.
- Já é a décima vez que eu tenho que chama tua atenção. E o que tu tanto me cuida? Eu tô com alguma coisa na cara alguma espinha? O que tu tem hoje?
- Nada...- Nada de mais, só que eu te amo e tu me considera uma irmã. Eu me sinto tão bem coisa, e sim sou muito irônica.
- Não parece. Não tá afim de toca? É só tu me fala, já disse que não tem problema. Somos como...
- Como o que nós somos?
- Irmãos.
- Que ótimo.
- Ué, não gosta?
- Não.- Grr, louca. Ele vai pensa que tu não gosta dele, vai entender tudo errado.
- Mas... Não entendo. Tu anda muito estranha. Não te reconheço.
- Não gosta de como eu tô agora?
- Como assim? Tu não tá falando coisa com coisa.
- Ou tu é meio lento também.
- Olha só isso, que papos são esses?
- Aah, não quero discutir.
- Não, espera.- Ele me segurou pelo braço e me puxou de frente pra ele. Ficamos um tanto próximos de mais. Ele ficou olhando um tempo nos meus olhos, depois me largou.- Tu tá com um brilho no olho diferente.
- Como tu pode saber isso?
- Eu te conheço muito bem.
- O que isso significa?
- Algo mudou em ti. Alguma coisa tu tá me escondendo.
- Não tô escondendo nada, pô.
- Falando pô no fim da frase? Concerteza tá escondendo.
- E o que tu acha que eu tô escondendo?
- Eu não sei.
- Tu não sabe de muita coisa.
- Então me explica.
- Eu não sei como começar.
- Vamos pelo começo, quem sabe?
- Eu descobri que eu gosto de um guri.- Eu mordi o lábio depois de falar. Fechei a boca pra não falar o nome. E ele franziu a testa. E não falou nada, acho que queria que eu continuasse. Então eu fiz isso.- Mas eu ainda não sei. Não sei nada realmente. Tô bem confusa. Mas enfim, é isso.
- E o menino já sabe disso?
- Acho que não.
- E tu já perguntou se ele quer saber?
- Como assim? Eu não vô fala pro guri: tu quer saber se eu te amo ou não?
- Aah então estamos falando de amar e não gostar.
- Sim.
- Tá eu te digo uma coisa só.- Esperei ele continuar a frase, mas ele não falou nada.
- O que?
- Esse menino é de sorte.
- Por que?
- Eu sou muito sortudo.
- Não entendi.
- Eu sei que tu gosta de mim, desde que tu tava parada olhando eu fala com a Alessandra. Eu vi que tu fico com ciúmes.
- Ciúmes? Só se for de irmãos, então.
- Quer dizer que é só sentimento de irmão aqui?- Eu fiquei quieta e não conseguia fala nada. Comecei a treme. Então entrelacei os meus dedos um no outro, pra ver se passava a tremeira. Não deu certo, ele percebeu o meu nervossismo e então sorriu. O meu sorriso favorito.- Calma.- Ele riu.- Olha eu não sou nenhum lobo mal, não vô te devora.- Ele foi chegando perto de onde eu tava sentada. Ele começou a falar um monte de coisa que eu não conseguia ouvir metade. Minhas mãos e pernas estavam descontroladas. Não tinha mais jeito. Ele já sabia.- Mas...
- Espera!- Eu gritei. Interrompendo ele.- Eu quero falar.- Ele acenou com a cabeça, então eu continuei.- Eu realmente gosto de ti. Mas tipo, se for pra estraga nossa amizade prefiro nem que a gente fique junto. E também eu sei que via ter muitas pessoas que vão achar super estranhos nós dois juntos. Acho que tu deveria pensar bem antes de...
- Eu já pensei.
- Deixa eu continua, pô. E se for pra ficar juntos tem que ser uma coisa séria. Não tô aqui pra...
- Cala boca Bela. Chega.- Eu fiquei sem reação. Então eu me levantei e encarei ele.
- Tu pensa que é quem pra me manda cala a boca?- Eu falei muito braba, poxa eu tô aqui abrindo o meu coração e ele me manda cala boca.
- Tu não vai calar a boca?
- Não, tu não manda em mim... Tu tá doido garoto!
- Eu faço isso por ti então.
- Faz o que?- Então ele calo minha boca... Sim, ele me beijo. E como beijo. Foi tão perfeito. A gente tem muita quimica como diria a minha avó. Sei lá, mas do nada eu me agarrei ele também. Pra quem nunca tinha feito isso eu acho que tô me saindo bem. Descobertas novas hoje.
- Tem certeza que tu é bv?
- Sim. Mas por que? Fiz algo errado?
- Não... Tudo certo. Até de mais.- eu corei concerteza.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O que não era, agora é - parte oito

Chegando na minha casa. Fizemos o combinado. Ele passou de carro e me esperou na outra esquina. Arrumei tudo rápido. Peguei meu uniforme, meus livros e cadernos, e depois por último peguei meus oculos. Teria que levar, mesmo que não gostasse muito da idéia de usa-los perto do Fernando. Enfim, tenho que ir arrumar tudo rápido e ir pra casa dele. Algo que será bem tenso, conhecer os pais deles não vai ser muito agradavel. Não parece um belo fim de um encontro. Mas eu nem sei como encontro deveria terminar. Normalmente, em filmes... Que bela base, se basiar em filmes. Isso não importa agora. Peguei minha mochila, desci as escadas. E passando pela porta da cozinha percebi que tinha um pedaço de lasanha no balcão. Eu não pude resistir e come rapidamente. Depois saí correndo porta a fora. E quando tô perto da esquina o carro do Fernando, não tá mais ali. E agora? Que eu vô fazê? O odio começou a subir pela minha espianha, até eu quase ficar vermelha de raiva. Olhei para todos os lados e nada desse idiota aparecer. Andei até o meio da rua e eu vi o carro dele parado na frente da casa da Alessandra. O que ele fazia ali? Caminhei lentamente e muito envergonhada. Quando cheguei perto eu vi ele encostado no carro e a Alessandra em pé na frente dele. Parecia que eles conversavam e estavam se divertindo. Quando cheguei um pouco perto, parei embaixo de um poste de luz. Na esperança que ele me visse e parasse de conversar com ela. Ciúmes de novo. Teria que aprender a controlar isso. Eu acho que fiquei uns 10 minutos, até que percebessem que tinha alguém parado observando os dois. Então o Fernando se despediu dela e entrou no carro. Ele parou com o carro na minha frente e abaixou o vidro, disse:
- Pronta?- disse Fernando.
- Aham. A gente vai pra sua casa?- Falei com a voz um pouco aspera. E olhando de canto de olho pra Alessandra. Que por algum motivo ainda estava na rua.
- Lógico. Achou que iamos aonde?
- Não, não achei nada.
- Entra.- Entrei e como estava sendo de costume não falei nada. Mas desta vez me senti desconfortavel com a situação. Então resolvi puxar assunto sobre qualquer coisa.- Bom, eaí que a gente vai tocar?
- Sei lá. As músicas que a gente achar tri.- Fernando falou parecendo não me dar muita atenção.
- Ah tá.- Mas alguma silêncio. E então não aguentei.- O que tu tava fazendo na casa da Alessandra?
- A gente tava conversando. Tu demorou um pouco.- Preferi não comentar que eu estava me empanturrando de lasanha. Então deixei ele continuar.- Então ela tava passando e resolvi dá uma carona pra ela. A gente se conhece desde de criança. Somos que nem irmãos assim, entende?
- Hum. Entendo sim. Desculpa pela demora.
- Que isso foi nada. Eu esperaria muito mais se precisasse.- Eu sorri depois do que ele disse. Não pude me conter. Mas eu não podia dar bandeira sobre os meus sentimentos.
- Então tá tudo bem.
- Ah antes de entrarmos. Eu posso te perguntar uma coisa?
- Pergunta.
- O que te fez gostar do Giovanni?
- Ah, por que isso importa? Sinceramente não sei se quero responder.
- Por favor responde, eu não tenho. E eu queria muito entender o que passa na sua cabeça. É importante.
- Bom... Te contei que eu e eles sentavamos juntos e ficavamos a aula inteira conversando. Então, ele sempre foi bem educado comigo e sempre me defendeu e ajudou quando eu precisava. E ele é muito bonito também, não posso negar. E sei lá, eu comecei a gostar dele. E do nada a gente se separo. E eu continue gostando dele. Mas isso nunca ninguém soube. Nem ele, muito menos ele.
- Então, vocês nem chegaram a ficar? Ou nenhuma vez rolou um clima, algo do tipo?
- Teve uma aula que estavamos conversando sobre um assunto meio chato. E não me lembro exatamente sobre o que era, mas eu sei que eu tava bem mal. E então ele seguro na minha mão e me deu um beijo no rosto, e disse que tudo ia ficar bem. E que ele sempre ia tá do meu lado. Pra uma menina apaixonada isso foi muito climão.
- Vocês tem uma história.
- Mas eu não quero que ela continue. Hoje é o fim dessa história.
- Por que?
- Não sei, mas sinto que não gosto mais dele. Não posso explicar agora. Porque eu ainda tô muito confusa. Mas tenho certeza que dele eu não gosto mais.
- Eu fico muito feliz por ti. Ele não te merece. Mas como eu sô teu amigo...- Queria que fosse bem mais que isso, mas enfim.- eu ia te ajudar com ele. Se tu concordasse.
- Não inventa Fernando. Nem pensa, não se meta nessa história. Já disse que não quero nada com ele.
- Como eu disse. Se você concordasse. Como não quer, não faço a menor questão de fazer isso.
- Então, vamos ficar aqui no carro ou vamos entrar?
- Ah sim. Vamos entar.
Peguei minha mochila no banco de trás e coloquei nas costas. No mesmo instante o Fernando tirou ela das minhas costas e carregou até o quarto da irmã dele. Era um quarto bem bonito. Não tinha muito a minha cara. Mas não havia razão para ele ter algum estilo parecido com o meu. Eu me sentia no quarto da Barbie. Era tudo rosa e com muito brilho. Era legal até. O que eu mais gostei foi uma guitarra que tinha bem perto da porta que dava pra sacada. E falando em sacada, a vista era linda. Não sabia que meu bairro era tão bonito. Não reparo em nada mesmo. A única coisa na qual eu não consegui deixar de perceber. Foi que o Fernando não parou de me olhar o tempo inteiro enquanto eu caminhava pelo quarto, e conhecia tudo o que tinha nele. Me senti em casa. Como se eu fosse parte da família.
- Então, o que achou?- Fernando falou terminando com a analise sobre o quarto.
- Perfeito. É as palavras que eua chei pra definir.
- Achei que rosa e brilho não fizesse seu tipo.
- E não faz. Mas não deixa de ser lindo.
- Que bom que gostou.
- Com licença.- Alguém falou da porta. Uma voz doce, de uma mulher. Só podia ser a mãe do Fernando.- Filho, sua amiga vai durmir aqui hoje?
- Ah sim mãe. Não tem problema né?- Fernando respondeu.
- Claro que não. Eu e seu pai vamos sair rapidinho. Vamos na casa da sua tia Iara. Mas voltamos cedo, eu acho.
- Não tem problema mãe. Nós já jantamos e não vamos durmir tarde. Amanhã tem aula.
- Isso mesmo. Então, boa noite e durma com Deus.
- Boa noite mãe.
- Boa noite.- Eu respondi olhando pra ela e depois pro chão. E senti que eu fiquei ruborizada.
- Pelo jeito ficaremos um bom tempo a sós. Vamos tocar?
- Sim. Onde tá meu violão?
- Lá no estudio.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O que não era, agora é - parte sete


Enquanto eu procurava uma mesa, Fernando foi fazer os pedidos da comida. Quando eu achei a mesa, me sentei e fiquei esperando. Minha cabeça estava a mil, cheias de perguntas. A pergunta que mais me incomodava, na qual eu não queria pensar agora era: será que eu gosto do Fernando? Eu não sabia a resposta, mas eu também não sabia se queria saber a resposta. Eu não queria sofrer. Minha paixão pelo Giovanni já tinha roubado muito da minha força. Não sei se aguentaria tudo de novo. Então até ter certeza máxima, não tocaria no assunto. Tentei me acalmar e deixar minhas perguntas de lado. Eu pode ver na hora em que o Fernando estava vindo com as bandejas. Uma menina parou ele no corredor e entregou um papel. Depois ela foi embora, ele ficou olhando um tempo pra ele enquanto me procurava no meio do mar de gente. Eu me levantei e acenei discretamente pra ele me ver. Quando ele viu, abriu um sorriso e veio para onde eu estava.
- Gente loca.- Ele disse enquanto sentava.
- Não entendo.- respondi confusa.
- Aquela menina me deu o número dela nesse papel e mandou eu ligar.
- E tu vai ligar?
- Não sei. Quem sabe.
- Uau, vai ser um grande relacionamento daí.- Cala boca, isso foi coisa de ciumenta. Tomara que ele não tenha percebido. Tomara!
- Por que diz isso? Tem algum problema?
- Não, a vida é sua Fernando. Faça o que quiser.
- Já te disse que fica muito linda quando tá com ciúmes.
- Eu não tôcom ciúmes!- Droga, ele percebeu.
-Ok, então me diz. Por que não simplesmente diz que é ciúmes? E resolvemos essa situação.
- Porque não é ciúmes. Eu não teria ciúmes de ti.
- Teria só ciúmes do Giovanni né?
- Não quero falar nisso.
- Eu não entendo por que tu gosta de um menino tão estúpido, arrogante e nojento que nem ele. Sabe. Tu é muito bonita. Se falasse mais com os meninos da sala, eu sei que eles veriam o quanto tu é especial. Tu é uma das poucas meninas que se pode manter uma conversa inteligente daquela escola. As outras meninas estão tão preocupadas com o umbigo delas que nem olham pra cara. Eu acho que tu não querem se envolver com outras pessoas é um erro. Tu tem que ser quem tu é. Tu tem que ser aquela menina que me conquistou no primeiro dia que a gente conheceu. Nem me conhecia direito e me tratou super bem. E ainda aceitou dar aulas pra mim. Eu acho que realmente tu não enxerga bem como tu é. Eu tenho certeza que não enxerga.
Eu não conheci responder nada. O que pode fazer foi morder o hamburguer, daí eu não precisaria responder de boca cheia. Mas eu sei que depois ele ia querer respostas. E isso não me animou.
- Desculpa Bela. Eu não deveria falar assim contigo. É que... É que eu não consigo deixar de dizer algumas coisas que estão na cara. Mas depois que a gente sair daqui vamos pra minha casa tocar?- Ele mudou de assunto, concerteza queria esconder alguma coisa de mim.
- Não sei. Se for muito tarde...
- Tu pode posar lá em casa.
- Hã? Tu acha que meu pai vai deixar eu posar na casa de um menino? Só nos teu sonhos.- Eu ri muito com a idéia dele.
- Bom, valeu pelo corte. Mas eu tenho uma irmã, tu pode durmir no quarto dela. Só que hoje lá tá em casa. Mas diz pro teu pai que tu vai pra casa de uma amiga. Eu queria muito que a gente tocasse hoje.- Ele friziu muito bem que queria hoje. Outro dia não serveria.
- Eu não sei, não Fernando. Eu não gosto de mentir.
- Ou apenas não gosta de ficar comigo um tempo.
- Não! Eu gosto, gosto muito de ti.- Palavras erradas. Droga. Eu vi um sorriso no rosto dele.- Mas eu não sei se...
- Calma, mamãe e papai vão estar em casa eu não vou te assediar.
- Eu não pensei nisso, mas agora é mais uma preocupação.
- Tu tá brincando né?
- Lógico, mas mesmo assim. Eu ainda não sei.
- Tu não me deixa escolha.- Ele parou. E depois olhou bem no meu olho.- Eu terei que te sequestrar então.
- Nem pensar, tá louco?
- Eu tava apenas brincando. Mas se tu não concordar comigo. Te sequestro por tempo indeterminado.
- Mas o que te faz pensar que eu tenho que concordar contigo?
- Porque eu quero ficar um tempo contigo. Fazendo algo que eu gosto e queria dividir esse momento contigo. Serve?
- Em tese.
- Vai vir ou não?
- Tá bom. Eu vou, mas eu tenho que passar em casa antes.
- Ok, ok. Termino de comer?
- Sim.
- Então vamos. Temos que ir na tua casa ainda.
- Tá bom.- Como sempre eu estapanada foi me levantar da mesa e quase caí. Se não fosse o Fernando me segurar pela cintura, eu estaria no chão morrendo de vergonha. Mais uma vez borboletas no estomâgo.
- Tudo bem?- Ele me perguntou preocupado.
- Si-sim.- Eu gaguejei. E depois me soltei do braço dele.
Então caminhamos mais uma vez em silêncio. Ele até comentava algumas coisas comigo, mas eu não estava com a cabeça aqui. Ela tinha partido pra outra parte desse mundo. Alguma parte que eu ainda desconhecia. Mas que era muito boa. Ele me chamou umas três vezes, mas como eu disse eu estava em outro mundo. E não queria voltar tão cedo. E sabe que eu descobri nesse mundo? Eu amava o Fernando desde o começo e não me toquei. Por isso que eu gosto tanto de dar aulas pra ele, gosto de ficar conversando com ele, quero que ele veja como eu sou pra ver se ele gosta de mim. E assim que vai ser. Daqui pra frente eu vou ser eu mesma. Não importa o que digam.
- Isabela, cuidado!- Eu dei de cara no poste, no estacionamento. Que mico.- Em que mundo tu tá?- Fernando falou enquanto me ajudava a levantar.
- Nesse que não era.- Respondi enquanto esfregava a testa.- Tá doendo muito.
- Calma, vamos pra casa e tu coloca um gelo.
- Tu acha que minha mãe vai deixar eu sair nessa situação?
- Então liga pra ela. Minha irmã te empresta uma roupa.
- Tá bom.- Disquei o número da minha mãe e depois de 4 toques ela atendeu.- Alô, mãe?
- Oi filha.- Minha respondeu.- Onde tu tá?
- Tô no shopping. Mãe posso posa na Tassi?
- Claro amor, mas amanhã tu tem aula.
- Eu vô passar em casa e pegar as meus materias então.
- Tá bom. Eu e se pai vamos durmir. Então pega a chave no vaso de flor pra poder entrar, tá?
- Tudo bem mãe.
- Beijos e boa noite.
- Boa noite mãe. Manda um beijo pro pai.
- Tá bom. Olha os modos.
- Eu não tenho mais 5 anos mãe.
- Tá, me desculpa. Beijos.
- Beijos.- Desliguei e me virei pro Fernando.- Tenho que passar em casa. Amanhã tem aula.
- Tá bom, eu passo contigo lá.- Ele respondeu inocentemente.
- Er, vai ser mais complicado. Meus pais acham que eu vô posa na Tassi.
- Tá. Então como vamos fazer?
- Me deixa uma quadra antes de casa. E daí tu passa por mim de carro e para na outra esquina depois da minha casa. Depois que eu pegar minhas coisas. Eu vou até o teu carro e pronto.
- E seus pais vão ver esse teu roxo?
- Tá roxo? Ah não que droga!
- Um pouquinho.
- Não importa. Vamos logo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O que não era, agora é - parte seis

Qual roupa eu vou agora? Eu não tenho roupa. Mas por que tanta preocupação, é só um passeio de amigos, ou não? Ah, eu não sei. E nem quero saber, eu acho. Só preciso de uma roupa descente. Eu acho que se ele gostar mesmo de mim, ele vai querer que eu vá como eu gotaria de ir. Não tentando er algo que eu não sô. Então, eu vou com a minha blusa azul listrada favorita, minha calça jeans, minha bolsa do Hello Kitty e meu All star. Pronto. Acho que fico bom. Pelo menos me sinto confortavél e é isso que importa. Nossa! Já são 5:40 e nem arrumei meu cabelo. Chapinha básica, concerteza. Buzina? Pra minha surpresa quando eu olhei pra janela era o carro do Fernando. Será que eu tô atrasada? Porque eu tinha ficado de passar lá. Pra que ele veio? Peguei meu celular, carteira e passei meu gloss rápido. E desci as escadas correndo. Meus cabelos deveriam ter dessarumado.
Eu tô atrasada?― Eu falei ofegante.
― De jeito nenhum. Ainda faltam uns 10 minutos pra 6 horas.― Ele me respondeu. Com o meu sorriso preferido no seu rosto. Era um sorriso malicioso, que ficava muito lindo no rosto dele.
― Então por que veio essa hora?
― Queria ver se não ia se atrasar.
― Eu nunca me atraso. Tu sabe.
― Mas se esquece das coisas né?
― Como assim?
― Violão Isabela.
― Ah é mesmo! Viu tu e essa sua pressa. Acabei me esquecendo dele. Vou lá pegar.
― Posso ir junto?
― Vêm.
Entramos os dois e subimos pro meu quarto. Eu fui até o armário onde guardava o violão e peguei. Quando virei para olhar pro Fernando, ele estava olhando minhas fotos no computador. Ele não podia fazer isso.
― Não! Não olha isso aí não.― Eu saí correndo e gritando.
― Então quer dizer... Tu gosta do Giovanni?― Ele me perguntou confuso e um pouco decepicionado, aparentemente.
― Bom... Por que falar sobre isso? É algo muito chato.
― Eu quero saber. Por favor Bella, me conta.
― Ok, ok. Quando eu entrei naquela escola a primeira pessoa que eu falei foi com o Giovanni. Ele ficou umas semanas sentado comigo. E a gente se dava muito bem. Isso a gente tava na sexta série. E bem, me apaixonei por ele. Então, um pouco antes de acabar o ano ele se mudou de lugar. E depois disso nunca mais falou comigo. Ele tipo sei lá. Eu acho que nem se lembra da epóca que nós erámos amigos. Mas isso não importa. Não sei porque eu te contei isso.
― E tu ainda gosta dele?
― Ah Fernando...
― Por favor, eu preciso mesmo saber.
― Eu... Gosto... Um pouco... Ainda.― As palavras saíram todas separadas. Eu não queria admitir aquilo. Era muito vergonhoso e muito secreto. Nunca contei isso pra ninguém.
― E foi por isso que tu se afastou de todos na escola?
― Em certa parte sim. Pelo menos eu não ia mais sofrer.
― Eu te faço sofrer?
― Não entendo porque isso tem haver contigo.
― Pode ter certeza. Desde de o começo tem haver comigo, mais do que possa imaginar.
― Não. Tu nunca me fez sofrer. Aliás, eu me sinto muito bem do teu lado. Tu me faz querer ser eu mesma. Tipo, não bancar a nerd e anti-social. Querer somente ser a Isabela. Alguém que ninguém realmente conhece. E eu me divirto muito contigo. Apesar de só termos menos de um mês de amizade.
― E mesmo assim eu não consigo.
― Não consegue o que?
― Acho que não é a hora de falarmos nisso. Vamos logo. Se não vamos perde a sessão.
― Tudo bem, eu já peguei o violão.
Descemos em silêncio e assim foi o caminho todo até o shopping. Fernando ficou o tempo todo com uma cara fechada. Parecia preocupado, um pouco triste e confuso. Não sei por quê. Mas assim que estavamos na fila pra comprar os ingressos. Eu quebrei o silêncio. Não aguentava mais aquilo.
― Ok. Fala logo. Tu não consegue esconder nada de mim. O que tu tem?― Eu falei brincando. Mas num tom severo.
― Eu não sei Isabela.― Tremi quando ele não me chamou pelo meu apelido. E ele sabe que eu prefiro muito mais ele.― Tu me deixa muito confuso. Não sei muito bem o que pensar. Muito menos o que sentir.
― Boa noite. Que filme desejam ver?― A atendente da bilheteria interrompeu nossa conversa. Eu odiei isso. Eu não tinha entendido nada do que ele disse. Isso me deixou muito furiosa.
― A possuída.― Fernando falou enquanto sorria. Mas não com meu sorriso favorito.
― 24 reais. Já é próxima sessão. Sala 9.
Fernando alcançou o dinheiro. Enquanto eu ficava surtando porque veriámos um filme de terror. Eu morria de medo. Não importa o quanto terror fosse. Eu tenho certeza que daria muitos gritos, seria constrangedor de mais.
― Obrigada, tenha uma boa noite.― Atendente falou.
― Filme de terror?― Eu falei com uma cara de confusa. Tentando aparentar o máximo que não gostei da idéia.
― Ora, qual é problema? Tem medo Bela?― Agora sim, meu apelido. Fica bem melhor. Mas eu não sabia como explicar isso a ele. Eu ia parecer uma fraca.
― Bem,― eu falei tentando achar as palavras certas― não são os meus favoritos.
― Qualquer coisa você pode se esconder no saco de pipoca.― Ele disse rindo aos berros. Eu não achei a menor graça.
Preferi não responder a esse comentário. Comecei a caminhar mais rápido e passei na frente dela. E ele notou que eu não tinha gostado. Então ele andou um pouco mais rápido e fico do meu lado. De vez em quando ele me olhava com o canto do olho, enquanto caminhavamos até a sala. Ele abriu a porta pra mim e me mandou entrar primeiro.
― Primeiro as damas.― ele disse, com meu sorriso favorito estampado no rosto.
Entrei sem dizer nenhuma palavra. Eu ainda estava chateada por ele ter escolhido um filme de terror. Eu sabia que essa parte da noite não seria nada legal. E ainda estava pensando em como não ver as horríveis cenas sem ele não perceber que eu estava com medo. Eu teria que arrumar um jeito.
― Fico muda?― Ele disse tentando fazer eu falar.
― Ainda não, mas era um bom momento.― Respondi sarcasticamente.
― Por que?
― Nada não. Esquece.
― Ah me fala.
― Já te falei muitas coisas hoje. Já tu me encheu de dúvidas e me deixou mais confusa.
― Sabe que os homens não expressam bem o que sentem.
― Poderia ser o primeiro a mudar essa idéia.
― Tudo bem, o que você quer saber?
― Por que era importante tu saber se eu gostava do Giovanni?
― Próxima pergunta.
― Mas... Tá. Por que me disse aquilo na fila?
― Por que é o que eu sinto. Como eu disse tu consegue me confundir muito. E mesmo assim...― Parecia que ele não queria terminar essa frase. Mas eu não falei nada fiquei esperando. Ele teria que me dar explicações de alguma coisa.― Tu me faz querer ficar perto de ti.
― Sim. Eu sei como é. É muito legal te ter como amigo.
― Realmente. Deixa pra lá. O filme vai começar. Quer pipoca?
― Agora ainda não. Quando o saco tiver vazio tu pode me dar.
― Tudo bem.
O filme era horrível. Eu me segurava na cadeira com toda força. Tinha cenas que era muito aterrorizantes. Eu queria sair correndo dalí, mas não faria isso. Minhas pernas não iam deixar. Tentei me concentrar em um ponto fixo na sala onde eu não veria as cenas. Mas não deu muito certo, eu ainda podia ouvir. Então uma hora que não pode mais aguentar coloquei as mãos no rosto e me encolhi toda. Pra minha surpresa Fernando passou um braço atrás da minha cintura e me puxou pra perto dele. Com o outro braço ele me ajudou a esconder o rosto. E pra maior surpresa ainda eu gostei daquilo. Eu senti aquele famoso frio na barriga. Borboletas no estômago. Agora eu entendia do que as meninas tanto falam quando gostam de um menino. Um tempo depois que já estava mais calma com aquela situação, deitei minha cabeça no peito dele. E escondi mais ainda o rosto. O que me fez ficar mais próxima dele. Em um momento do filme no qual se escutava uma mulher dando um grito muito agudo de pavor, eu dei um pulo e me encolhi mais. Eu não queria imaginar por que ela tinha gritado. Então Ferando me abraçou e disse: " Não precisar ficar com medo. Eu vô ficar o tempo todo do seu lado. Não quer o saco de pipoca?" Só acenei com a cabeça que não. Prefiria ficar da maneira que eu estava. Eu me sentia muito melhor. E não queria sair dali, por um momento eu comecei a gostar de filmes de terror. Será que eu estava gostando do Fernando? Decidi não pensar naquilo no momento. O filme estava no fim. E eu percebi que o meu tempo tinha acabado. Acho que não teria outro momento desses, ou teria? Enfim, o filme acabou e eu pude relaxar. Me mexi um pouco pra ver se Fernando tirava o braço de cima de mim. E ele realmente tirou e ficou de pé. Me levantei logo em seguida e saímos da sala em silêncio. Eu ainda estava um pouco tensa pra falar alguma coisa. Mas estava muito feliz.
― Então, foi um bom filme né?― Eu falei meio timída.
― Claro, pra ti que acompanhou tudo.― Fernando respondeu rindo.
― Eu tentei avisar que não era uma boa idéia.
― Tudo bem, vemos outro que você quiser na próxima vez.
― Mas mesmo assim o filme foi bom.
― Foi? Por que?
― Hãã... Então a gente vai pra casa?― Mudei de assunto rápido, não quero e nem ia admitir que o filme foi bom porque fiquei abraçada nele.
― Não sei. São 8 horas agora. Podemos comer alguma e depois ir, ou , você prefere já ir?
― Admito. Estou morrendo de fome!
― Então vamos comer.― Ele riu.― O que a gente vai comer?
― Eu quero um hamburguer.
― Eu também.
Nós dois rimos juntos e fomos em direção a praça de alimentação.

sábado, 4 de julho de 2009

O que não era, agora é - parte cinco


― Eu sei que parece chato, mas um cachorro não pode ficar dentro de casa.
― Mas maninha, eu gosto tanto dele, deixa ele fica?
― Yago, tu sabe muito bem que não dá.
― Tá bom Isabela! Tá bom!
Meu irmão menor tem 7 anos. Ele é muito fofo, mas às vezes é teimoso de mais. Mas eu gosto muito dele. por incrível que pareça nós dois nos damos muito bem. E sempre que precisamos esconder alguma encrenca nós nos unimos. E fazemos isso também quando queremos dinheiro. Mas ele queria que um cachorro durmisse com ele na mesma cama, como que eu ia deixar isso? Ah, ele tem que entender e se ele fica brabo depois eu falo direitinho com ele.
― Coloco ele na rua?― Eu falei tentando fazer as pazes com ele.
― Coloquei. E agora eu vou durmir, boa noite.― Meu irmão falou subindo as escadas.
― Tá brabo Yago?
― Não!
― Então tá, boa noite.
― Na verdade, eu tô sim. Mas amanhã eu já melhoro.
― Tudo mano, vai durmi e melhore.
Meu irmão subiu as escadas bufando de raiva, mas eu sabia que amanhã ele iria estar mais calmo e não ia mais ficar brabo comigo. Então eu fui dormir também. Acordei no outro dia muito atrasada, nem tivê tempo de tomar o café. Tivê que ir pra escola de bicicleta, eu odeio andar de bicicleta. Eu tenho trauma! Porque eu nunca andei, uma vez se quer, que eu não caísse um tombo feio e me machucasse. E aconteceu isso como sempre. Que droga, caí na frente da escola. Todo mundo riu da minha, mas ninguém pra ajuda. Juntei minhas coisas depressa, e coloquei a corrente na bicicleta e saí correndo pra sala de aula. Atropelei sem querê o Giovanni. Eu não vi quando ele tava vindo de tanta pressa que eu tava.
― Eita, passa mas não leva junto.― Giovanni grito enquanto eu corria pra minha sala.
― Desculpa, eu tô com pressa.― Eu falei, mas não tava nem aí se ele caísse.
Entrei correndo na sala, larguei minha mochila em cima da classe e sentei. Fiquei um tempo me recuperando da corrida. Depois de 5 minutos que eu estava na sala o professor chego, e ele deu uma prova. Nada melhor pra começar o dia. No recreio eu fui pra biblioteca pra pesquisar sobre a colonização do Brasil, trabalho de história sempre me roubava muito tempo. Não sou muito fã da disciplina de história.
― Oie, incomodo se sentar aqui?
Olhei rapidamente pra cima e percebi que era o Giovanni que estava na minha frente. Eu fiquei um pouco confusa, demorei uns segundos pra colocar minha mente em ordem e funcionando perfeitamente. Depois disso, eu respondi que ele podia sentar. E eu fiquei um tempo olhando pra ele, não acreditanto muito no que acontecia. Depois eu percebi que estava sendo inconviniente e parar de olhar pra ele e continue minha pesquisa.
― Você passa o recreio inteiro aqui?― me perguntou Giovanni.
― Quando é preciso sim.― eu respondi. E depois de uns minutos continue.― Por que quer saber?
― Não, porque eu nunca te vejo no recreio. E na sala de aula tu tá sempre bem quieta. Parece que nem tá na sala. Acho que é uma das únicas que não bagunça.
― Prefiro ficar mais na minha. Quieta, sabe?
― Entendo, mas podia falar mais. Sua voz é bonita. Acho que nunca tinha escutado ela antes.
― Acho que não mesmo.
― Tomara que possa escutar mais vezes.
Surtei total depois disso. O que ele estava querendo? Ele estava falando de mais comigo e me elogiando de mais. Por que tudo isso? Ah, que idiotice a minha pensar que ele fosse se interessar em mim.
― Quem sabe.― respondi sarcasticamente.
Depois disso os dois ficaram em silêncio. Então Giovanni se levantou e saiu de perto de mim.Bom, continue e fiquei prestando atenção no texto de história. Isso até os inal bater e eu ter que voltar pra sala. No caminho pro corredor o Fernando passou por mim, sorrindo ele me acenou. Eu acenei de volta. Ele fez um gesto que parecia que tava tocando violão pra mim não esquecer de levar o violão na casa dele. Acenei com a cabeça e entrei na sala. No fim da aula eu encontrei o Fernando e fomos embora juntos. De cinco em cinco minutos ele me lembrava do violão.
― Poxa Fernando, eu falei que não vô esquece!― gritei alto e nom tom de raiva.
― Desculpa Bela, mas é que eu só muito chato com isso.― ele me respondeu sem jeito.
― Tudo bem, eu não devia ter gritado com você também.
― Não tem importância. Mulheres quando estão brabas ficam mais lindas ainda.
― Cala boca. Como foi a prova?
― Nossa, eu fui muito bem. Agora tu e obrigada a sair comigo professorinha.
― Isso se eu quiser né?
― E não quer?― Fernando fez uma cara de triste e ficou parado na rua. Como se não acreditasse em algo.
― Eu quero.― Falei timidamente.
― Ainda bem. Eu juro que ia ficar muito mal se não quisesse. Poxa levar um fora de uma nerd. Era o fim da minha reputação.
― Haha, como ele é engraçado.Bom, que horas eu vou pra tua casa?
― Vai às 6h. Pode ser?
― Pode, é meio cedo. Mas eu me viro.
― Tu não consegue me dizê não, né? É gamada em mim.
― Como tu se acha né?
― Eu não me acho eu sou.
― Uau, me impressionei agora.
― Ora vamos. É uma piada pelo menos uma risada vai.
― Haha.
― Poxa, tô mal de piadas.
― Tu morreria de fome se fosse comediante.
― Ah, é uma piadista também. Tô bem arranjado!
― Como tu é troxa.
― Também te amo, tá?
― Ai, que fofo.
― Sem graça. Vou indo pra casa. Quer que te acompanhe?
― Não precisa, pode ficar em casa.
― Tu que sabe. Beijos e cuidado pra não morre no caminho.
― Cada dia mais engraçadinho, tchau!

domingo, 28 de junho de 2009

O que não era, agora é - parte quatro

Nesse momento minha cabeça parou completamente, e eu não conseguia falar. Eu queria aceitar, mas minha boca ficava aberta mas não emitia nenhum som. Droga! O que conseguir fazer foi acenar com a cabeça. O que pareceu muito troxa.
― Aceita? Sério?― falou Fernando todo empolgado.
― S-sim.― finalmente algum som!
― Ai, tu não sabe o quanto eu tô feliz Bela.
Na empolgação ele acabou me abraçando, mas como não esperava por isso e ele largou todo o peso em cima de mim. Nós acabamos caindo no chão. E ele ficou uns minutos em cima de mim me olhando. Foi bem estranho. Depois ele levantou e estendeu a mão pra mim. E me ajudou a levantar.
― Desculpa.― disse Fernando.
― Não foi nada. Mas eu tenho que ir mesmo.
― Ah sim. Quer carona?
― Não, eu moro duas ruas pra baixo. É perto, posso ir caminhando.
― Mora tão perto assim? Nunca te vi por aqui.
― Que nem na escola.
― É verdade. Mas então eu te acompanho.
― Nã...
― Não aceito não como resposta! Todo mundo quer um cara bonitão assim do lado. Tudo bem, ninguém quer.― nós dois rimos juntos.― Mas tá tarde e não é bom que meninas...
― Eu entendi Fernando. Vamos logo!
― Ok. Desculpe. Mãe vô leva a Isabela até em casa, já volto!
― Tudo filho, não volta tarde.― falou a mãe do Fernando.― Foi um prazer te conhecer Isabela.
― Igualmente. Tchau.― falei e saí da casa.
Fomos andando em silêncio até chegar no final da rua. Onde já tinhamos uma distância razóavel da casa do Fernando. Até que o silêncio é quebrado por uma buzinada de carro muito alta. Fernando me puxou com toda força pra trás, e eu caí na calçada.
― Não olha por onde andam.― gritou um senhor de dentro do carro.
― Se andasse mais devagar isso não aconteceria!― respondeu Fernando furioso.― Tudo bem bela?
― Sim. Eu acho.― falei ainda sentada no chão, foi juntando minhas coisas e o Fernando me ajudou.
― Sujeitinho mais idiota! Onde já se viu cruzar o sinal fechado? Ai, eu odeio isso. Gente que não respeita os outros.
― Calma Fernando. Tá tudo bem.
― Sim, eu sei. Mas eu nunca me perdoaria se te acontecesse algo!
― Não tem por que ficar assim, não foi nada de mais.
― Tenta entender isso, tá? Tudo o que acontece contigo é importante. Entende isso?
― Ok.― falei apavorada.
― Vamos indo e dessa vez, com mais cuidado!
― Tá tá Fernando. Para, tá me dando medo!
― Desculpa.
Andamos mais uma rua em silêncio. E em poucos minutos chegamos na minha casa. Não era uma casa luxuosa, mas eu gostava do jeito que era. Era perfeita pra mim! E não importava o que disessem eu não trocava aquela cor amarela escandolosa que minh mãe pintou a casa por nada. Até era engraçada. Não, era chamativa mesmo! Acho que Fernando achou ela chamativa também. A cara dele de espanto foi engraçada.
― Brigada por me trazer.― falei como uma despedida.
― De nada, vô indo.― ele se abaixou e me deu um beijo no rosto.
― Tchau.
― Até amanhã.
Entrei em casa e as luzes estavam todas apagadas. Meus pais deviam ter saido. Fui até o quarto do meu irmão e bati na porta. Bati, bati e bati. E nada de ele atender. Então fui até a chave de luz da casa e desliguei. De repente algum grito foi emitido e um som de alguém caindo da escada eu consegui ouvir. Liguei a chava de novo e fui até a escada.
― Cadê o papai e a mamãe?― Falei me segurando pra não rir.
― Acho que saíram pra jantar. Foi tu que apagou tudo?― meu irmão responde atirado na ponta da escada.
― Não, bem capaz. E levanta daí logo.
― Onde tu tava?― meu irmão falou enquanto levantava.― O pai tava te procurando.
― Ah, eu tava em naumtim.
― Naumtim?
― Não te interessa onde eu tava.
― Engraçadinha. Vô volta a joga.
― Vai joga o que?
― Nautim.
― Tá, tá. Bom jogo!
Subi até meu quarto e larguei minha mochila em cima da cama. Recebi uma mensagem no celular. Erado Fernando me avisando que ele tinha que estudar matemática e era pra mim levar o meu violão na casa dele.Amanhã é um dia novo, hora de dormir. Mas antes de deitar fui atrás do meu irmão.
― Que tu tá fazendo?― Eu gritei apavorada.
― Aaah... Eu tô, aah que te interessa.
― Por que o toby tá aqui dentro?
― Porque ele vai durmi comigo. Mamãe nem vai nota.
― Claro que vai. Boto ele pra fora agora.
― Ah maninha.
― Nem ah nem 'be'. Vai logo!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O que não era, agora é - parte três


Atrasada, atrasada. Como eu pode me atrasar tanto? Tomara que o Fernando não se irrite. Droga! Não tem campanhia. Vai no grito mesmo então:
― Fernaaaaando!― gritei o mais alto que eu pode.
― Oi, posso ajudar?― apareceu uma senhora, acho que é a mãe do Fernando.
― Oi, eu sou a Isabela. Eu vim dar aulas de matemática pro Fernando.
― Ah sim, ele me avisou que você vinha. Ele foi no mercado pra mim, mas já vem. Pode entrar.
― Com lincença. Obrigada.
Quase morri de vergonha. Imagina uma mãe de um menino que você nem se dá direito atender você. Ai, que ódio do Fernando. Eu espero que ele não demore. Poxa, mas que eu quero falando. Eu que me atrasei. Posso esperar um pouco. Demorou uma hora até Fernando voltar. Ao me ver sentada no sofá da sua casa ele abriu um sorriso que não esperava.
― Bela!
― Oi, como vai?
― Bem, e você? Desculpe atraso.
― Bem, também me atrasei. Não tem problema.
― Vem, vamos começar logo.
― Claro. Com licença.
― Pare de ser tão educada. Senta-se em casa.
― Já que insiste.
― Já falei que me divirto muito quando estou contigo?
― Não. Mas pode falar agora se quiser.
― Abobada.
― Oh, chega de papo. Senta aí.
― Sim, senhora! ― falou fazendo sinal de sentido. Que nem um soldado.
― Chega de besteiras. ― peguei meus livros e meu óculos na mochila. Fiquei meio envergonhada de precisar usar meu óculos na frente de Fernando.― Bom, vamos começar?
― Sim. Não sabia que usava óculos.
― Bem... sim, eu uso. ― falei olhando pro chão.― No dia que você veio falar comigo pela primeira vez eu estava usando, mas quando caí eles foram lançados longe. E daí eu tirei quando vi você.
― Não gosta de usa-lós?
― Nem um pouco.
― Por que não usa lente então?
― São muito caras. Eu até tento juntar dinheiro pra comprar, aliás, eu estou juntando dinheiro pra comprar.
― Entendo.
Ele puxou um livro pra perto dele e não falou mais nada. A não ser quando tinha dúvida sobre alguma assunto. Ficamos duas horas só estudando números e nada mais. Acho que consigue tirar todas as dúvidas dele. Ainda bem. MKas eu gostei de dar aula. Pena que não vai ter mais pelo jeito. E Fernando concerteza vai esquecer que um dia falou comigo e vai voltar tudo a ser a mesma coisa. Ou não. A acho que sim. É o mais fácil até para ele, não andar com uma nerd e não queimar o filme dele.
― E então Bella, o que vai fazer quarta que vem?― falou Fernando rindo.
― Acho que nada, por quê?
― Bom, minha prova de matemática é segunda. Se eu for bem, o que é muito provável depois dessa aula. Vamos comemorar?
― O que? Comemorar? Onde?― eu estou sendo chamada pra sair por um menino? Não posso acreditar.
― Sim, comemorar. Não sei. Podemos ver algum filme. Ou outra coisa que você quiser.
― Sério?
― Sim.― ele falou e deu um meio sorriso.
― Sabe tá passando um filme que eu queria muito ver. É sobre uma menina que tem uma banda, ela é uma roqueira. Eu não sei o nome, mas eu sei que tem guitarras e isso é muito bom! Quer dizer... É legal.
― Gosto de guitarras?
― Eu sei tocar. Gosto de mais. Estranho né?
― Por que seria?
― Porque olha bem pra mim. Não tenho cara de quem goste disso.
― Eu já penso o contrário. Vem comigo, se tu gosta disso tenho que te mostrar uma coisa.
― Ah, mas eu tenho... Tá ficando tarde.
― Não leva mais de 5 minutos. Vem, por favor?
― Tudo bem, vamos.
Segui ele até uma sala pequena. Quando olhei a primeira vez eu não acreditei muito. Mas depois me toquei. Aquilo era um estudio, muito pequeno. Mas era! E era lindo e perfeito. E tinha tudo. Uma bateria, um microfone, pedestal, baixo e uma guitarra. A guitarra era preta, da guibson. Eu não conseguia falar. Muito menos repirar. Minha boca devia ter ido no chão. A sala tinha um vidro espelhado. O Fernando me disse que lá ficava aparelhagem do som e todos os equipamentos, depois de recuperada eu perguntei se podia pegar a guitarra. Ele disse que sim. Mas que não era dele. Era de um amigo.
― Tu tem uma banda?― eu disse sem fôlego.
― Sim, eu sou vocalista.
― Tá, peraí. Deixa eu volta ao meu estado normal.
― Se quiser pode ficar assim, elétrica! Gostei desse teu lado.
― Para de folga.
― É sério, me diverti mais ainda.
― Bom e quem toca guitarra pra vocês?
― É o meu amigo Gustavo, mas a gente tava precisando de alguém que tocasse violão.
― Aah, sim.
― Tu não sabe?
― Até que sei.
― Quer tocar pra gente?